sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Orfanato mix feelings

Mix feelings (sentimentos opostos…)
Gosto e não gosto, quero e não quero ir lá, devo e não devo…

Desde o início do nosso projecto sempre fui muito reticente quanto às nossas funções a desempenhar com as crianças lá. O orfanato tem boas condições, mas o grupo escolar de crianças com quem estamos todos os dias são deixadas totalmente ao abandono por gente sem formação para as cuidar. O orfanato tem imenso pessoal formado no berçário e crianças pequenas, mas o grupo pelo qual estamos responsabilizados devia andar na escola e não anda, é traumatizado e precisa de apoio psicológico que não tem, muitos têm deficiências ou doenças e não tomam a medicação adequada. Claro que o mal maior de que sofrem é a carência de amor e atenção. E embora isso seja o melhor que lhes podemos dar é tão ingrato e fortuito porque é super efémero e ilusório. Faz-me alguma confusão deixar que eles se apeguem a nós e nós a eles, mas é inevitável, aliás é tarde demais…

Já estamos todos demasiado envolvidos, no entanto ainda agora comecei a decorar seus nomes já me vou embora. E eles lá ficarão ao deus dará, ao abandono a fazer tarefas domésticas… Já por três vezes dei conta de mim com lágrimas nos olhos, primeira vez quando um miúdo teve um ataque de epilepsia e ninguém o soube ajudar, segunda vez quando chegaram umas miúdas novas e escreveram as suas histórias - uns tios tinham-nas perdido (propositadamente); e hoje quando vi no rosto de algumas o aperceber se da nossa despedida e dos seus amigos que eventualmente vão para famílias adoptadas ou biológicas.
Inevitavelmente já nos apegamos aquelas crianças. Muitas vezes sinto-me totalmente inútil, por não lhes conseguir dar mais do que dois meses de falsas expectativas, e não lhes ensinar grande coisa pois poucos ou nenhuns tem bases suficientes para lhes darmos explicações. Gosto de muitos deles… mas é assustador saber das histórias que ali os trouxe: abandonados, mal tratados, perdidos, abusados, etc… E o que é que podemos fazer por eles, dar-lhes atenção! Para eles basta para mim não, sinto-me incompleta.

Infelizmente cá em casa tem havido grandes discussões sobre se o projecto PUMAP deve ou não continuar neste orfanato. Eu sou mais apologista de arranjar um protocolo mais educacional, de longo prazo e mais estruturado numa qualquer instituição que mantenha continuidade mesmo depois de nos irmos embora. Mas parece que sou única a ter essa visão (senão sou estou entre poucos)… Os outros crêem que por ser tão curto o espaço de tempo mais vale apanhar estes miúdos nesta fase de transição e dar-lhes a atenção que tanto precisam.

Claro que fazemos falta em todo o lado, e a discussão só a há por isso mesmo. É muito complicado sermos pragmáticos em questões de amor, mas eu prefiro não os fazer (às crianças) sofrer tanto nem eu sofrer, apesar dos dois meses serem muito gratificantes tanto para nós como para as crianças, do que termos uma vertente mais educacional de modo a criar um valor acrescentado no conhecimento do mundo (seja a nível de escolinha tradicional, ou jogos didácticos, ou ensino de competências técnicas e apoio psicológico) numa qualquer criança carenciada.

No orfanato temos que trabalhar tudo de raiz. Muitas destas crianças nunca estimaram um caderno ou caneta e estão a aprende-lo connosco. Muitas nunca tiveram ninguém que soubesse o nome delas…Mas é ingrato, é difícil e não me sinto capaz/formada para dar tudo o que tenho.

1 comentário:

  1. não é justo pores os outros com lágrimas com as tuas descrições.... temos saudades, anda pra casa rápido.... beijo mimão ps: finalmente fotos em que aparece a tia mi, a mati não gosta de ver as outras porque tu nunca estás.... mas vai gostar destas que puseste ontem, eu já vi a empala ou gazela na do kruger, mas a mati não acreditou em mim quando lhe disse onde estava....

    ResponderEliminar